Blog: A língua que falamos molda o nosso pensamento? - Spot Traduções

21 de maio de 2024
O pôr do sol existe ou é só um produto de nossa imaginação fértil? Até que ponto o que nós falamos afeta a realidade? A ideia da relação entre fala e pensamento existe desde a antiguidade, mas será que uma língua pode afetar a forma como nos relacionamos com o mundo? Os falantes nativos de português apresentam carências na compreensão de aspectos naturais ou sociais por conta da língua que falam? É disso que fala a hipótese de Sapir-Whorf.

A hipótese de Sapir-Whorf, também chamada de relativismo linguístico, é a ideia de que o pensamento é dependente da linguagem. Por exemplo, a língua Hopi não tem estruturas que exprimem a passagem de tempo. Ou seja, os Hopi não são capazes de pensar no tempo como passado, presente e futuro. Correto? Não. Na verdade, a hipótese de Sapir-Whorf sequer foi proposta por aqueles que emprestam seu nome.

Edward Sapir (1884-1939) nasceu onde hoje é a Alemanha. Emigrou para os Estados Unidos ainda criança e ali concluiu seus estudos em filologia e antropologia pela Columbia University. Ainda no bacharelado, demonstrou interesse pelas línguas ameríndias e publicou diversos artigos e livros sobre o tema. Já Benjamim Whorf (1897-1941) nasceu nos Estados Unidos e, embora se interessasse por linguística, sua formação era em engenharia química. Boa parte de seu conhecimento em linguística foi adquirido por conta própria.

O curioso é que Sapir e Whorf nunca tiveram uma relação estreita de trabalho e nunca publicaram juntos um trabalho com o nome de “hipótese”. A primeira vez que o título “hipótese de Sapir-Whorf” apareceu foi em 1954, quando os dois pesquisadores já estavam mortos. Na verdade, Sapir atuou como orientador de Whorf na pesquisa sobre a língua Hopi sobre o tempo, e hoje, sabemos que as conclusões de Whorf sobre o tema estão equivocadas; os Hopi pensam no tempo como qualquer outro povo, e esse fato foi comprovado em estudos posteriores.  

Hoje temos muitos estudos demonstrando falhas na hipótese de Sapir-Whorf, embora ela ainda desperte a curiosidade de pesquisadores e leigos. O filme “A Chegada” aborda o tema, o foi um grande sucesso comercial nos cinemas. De acordo com alguns especialistas, como Steven Pinker, famoso psicólogo e linguista, a nossa língua materna pode dirigir o nosso pensamento só até certo ponto. Mesmo assim, a hipótese de Sapir-Whorf ainda é tema de pesquisas linguísticas, e ainda há muito a ser descoberto sobre a mente e a linguagem.